segunda-feira, 16 de junho de 2008

Valerá a pena?

Hoje levantei-me como todos os dias levanto, com somente metade das funções a trabalhar. E como todos os dias, não consegui abrir a porta da casa de banho. (hei de mudar a maçaneta um dia). Afinal tomei um banho e acordei. Como todos os dias.
Mas quando olhei para o espelho, achei ali qualquer coisa estranha. E fiquei ali olhando… olhando… A pessoa que estava ali olhava-me com um ar perguntador. Questionava qualquer coisa.
A figura que eu via não era aquela à qual eu me tinha acostumado a crer que via todas as manhãs no espelho. Tinha alguns (vários seria mais bem dito) brancos e umas primeiras linhas de expressão (realmente não são rugas, garanto). Tens razão, pensava eu, todo esse tempo vendo-te como a jovem que ia comer o mundo... E nunca em anos dei-te atenção. Nunca em anos perguntei-te o que iríamos fazer hoje, aonde iríamos e com quem estaríamos. Nunca levei em consideração o que estiveste a fazer todo esse tempo aí desse lado.
Por um momento senti-me como Dorian Gray a olhar para o retrato…
Mas o ponto não era ainda este. E de repente: "Valerá a pena?"
Bem, na verdade muitos têm vindo a ensinar-me a questionar assim (maduramente, dizem eles) quando tenho que me empenhar por algo, por um objetivo qualquer. Mas também ensinaram-me a chegar a uma conclusão racional. E essa conclusão a que se chega é geralmente que "não, não... não vale a pena... vou desistir disto ou daquilo..."
Não, não era bem isso!
Há décadas que venho ouvindo "vamos, põe os pés no chão!", ou "achas mesmo que consegues aquele emprego, com a concorrência que lá vais encontrar?…", ou, há muitos, muitos anos: "hás de ser o quê? bailarina? modelo? atriz? cantora? piloto de corridas? médica? engenheira? sim, senhor, esta é boa!!!" (e o complemento preferido: saíam todos rindo muitíssimo! E eu, claro, pensava "de que se riem eles?…" Demorou, sim senhor, mas um dia descobri do que se riam…)
Não! A pergunta que Eu fazia para mim era:"Valerá a pena… teres desistido???""Valerá a pena continuares a desistir???"
É que de repente percebi que nunca tinha tentado, sequer, pensar ao contrário (a isso usualmente damos o nome de subverter uma coisa qualquer, e é disto que estou falando sim)
Claro, já tinha usado a fórmula para justificar porque estava abrindo mão (do que for!), quatro mil oitocentos e sete vezes. Mas nunca, nunca tinha questionado: "Vale a pena desistir???"
E comecei a juntar todas as sobras dos meus antigos sonhos. Quem ia ser? Que ia fazer? Que casa ia ter? Num ritmo alucinante, lembrei-me, um após o outro, o carro, as roupas, as jóias, as viagens, todas as coisas que eu ia ser ou ter, as pessoas que ia ajudar, os serviços que ia prestar…
E apaixonei-me…




Apaixonei-me pela pessoa que eu ia ser há muitos, muitos anos atrás, naquele tempo em que os "grandes" riam-se de mim… e eu ainda não tinha percebido por que…
E alegrei-me…
Porque não tinha que permanecer onde estava, perguntando a cada obstáculo "valerá a pena?" Não, eu vi a chance e a força para fazer ainda algumas daquelas coisas. Não, eu não mais tinha que gastar a minha energia toda a justificar a desistência, a partir de agora podia usá-la (na verdade, pouco mais de metade dela) a obter, conquistar, alcançar os meus sonhos…
Todos eles? Provavelmente não. E daí? Qual a melhor: lamentar o passado ou cobrar o futuro?
Adivinha qual escolhi…
Hoje acordei meio sonada como todos os dias.
Hoje atrasei-me, saí tardíssimo…
Hoje saí para a rua e tinha a cara mais feliz que um dia tivera…
Hoje voltei a sonhar...

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